segunda-feira, 29 de junho de 2009

Santa Marina III Parte ( Monitor 27/06/09)


Algumas pessoas me escreveram perguntando sobre o porquê de eu estar me referindo de modo repetitivo a uma personagem assim tão apagada na hagiografia, isto é entre as biografias de santos católicos. Peço perdão aos leitores então, para contar algo muito pessoal. Na década de 30, o mineiro Chico Xavier escreveu dois livros, inspirado, segundo ele, por um antigo senador romano do tempo de Jesus. No segundo deles, há a referência a uma história singular. Uma patrícia romana, de cerca de 18 anos é expulsa de casa injustamente, como se houvesse tido um filho fora do casamento. Ela perambula pela Itália, sozinha com o bebê que não era seu, até que, por um conselho amigo, vai para a cidade de Alexandria no Egito. Esse percurso dura um ano, tempo suficiente para que o pequeno ao seu colo falecesse, vítima das doenças infantis do inverno europeu. Mas este mosteiro era apenas para homens. A moça, que chamava-se Célia, adota o nome Marinho e veste-se de hábitos de monge. Durante sua vida monástica, ocorre a nova acusação já narrada nos textos Santa Marina I e II. Acontece que os arquivos católicos, maronitas e ortodoxos sobre Santa Marina eram praticamente inacessíveis no Brasil na década de 30. E a história descrita no livro de Chico Xavier é muito maior, mais minuciosa e detalhista, revelando a vida cotidiana na Roma e na Palestina do segundo século. No ano de 1939, quando o livro foi editado, Chico Xavier era um datilógrafo de uma fazenda do Ministério da Agricultura, trabalhando cerca de 10 horas por dia. Ele tinha apenas o curso primário, o que corresponde à primeira metade do ensino fundamental de hoje. No ano de 1941, meu Pai, Clóvis Tavares encontrou um livro em espanhol que contava a segunda parte da narrativa de Chico Xavier e ficou muito impressionado, pois os dados eram idênticos e havia uma confirmação impressionante da paranormalidade do mineiro. Ele havia captado, de um modo impecável, dados da vida de uma santa desconhecida. Principalmente para quem vivia numa comunidade rural de Minas Gerais nos anos 30. Quando meu Pai encontrou a prova da veracidade histórica do texto de Chico, levou o livro para ele, que ficou muito feliz de poder confirmar o que sua percepção extra-sensorial havia captado. A Santa Marina era muito venerada em Veneza, na Itália e o seu dia é o 18 de junho. No ano passado eu fiz uma nova busca, desta vez em sítios católicos e maronitas da Internet e obtive novas confirmações que incluí num livro chamado “Célia Lúcius, Santa Marina”, publicado por uma editora de Belo Horizonte e que traz vários documentos históricos comprovando a os escritos de Chico Xavier. Aos interessados estou ao dispor.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Santa Marina II Parte - Monitor 20/06


Levantar os arquivos da vida de Santa Marina não foi muito simples. Ela é pouco conhecida até mesmo entre os católicos. Tenho uma amiga que é freira e mora em Roma. Eu escrevi para ela na época em que fiz as pesquisas sobre esta grande personalidade cristã e fui agraciado com uma série de fotocópias de algumas biografias encontradas nas bibliotecas do Vaticano. Na semana passada, eu contei que Marina iniciou um trabalho com crianças e idosos nas cercanias do Mosteiro de Alexandria, no Egito. Ali, o menino que ela criava, cresceu até a idade de quatro anos, quando foi acometido de violenta gripe que fatalmente o vitimou. As condições em que eles viviam não eram adequadas, pois a região era úmida e fria. Todavia esse fato não abateu a jovem que vivia em hábitos de monge. Certo dia, uma senhora pobre a procurou com o seu filho ardendo em febre. “Irmão Marinho, no Mosteiro não quiseram me receber, mas meu filho está muito mal.” Marina orou com fé e a saúde do pequeno se restituiu. A notícia se espalhou e era comum ver no humilde casebre, romarias em busca de saúde para o corpo e paz para o espírito. Plantaram hortas, pomares, um horto e criavam-se pequenos animais. Era uma pioneira experiência de vida religiosa ativa. Excluída da vida contemplativa, seguiu a sua intuição e abraçou as dores dos pobres e enfermos. A sua vida missionária teria durado cerca de dez anos. Ao fim desse período, embora ainda jovem, estava enfraquecida e doente. Seu leito foi cercado por toda a comunidade que orava fervorosamente para sua cura. Até mesmo os irmãos do mosteiro, percebendo a sua extrema penúria e reconhecendo o valor da sua alma verdadeiramente piedosa, solicitaram o perdão do prior para a mesma. Este reviu a sua posição e permitiu que trouxessem a esquálida enferma (para eles o Frei Marinho) para o interior do Mosteiro, onde estaria protegida do frio intenso. Ali ela viveu os seus últimos dias, a todos perdoando e legando lições de humildade e renúncia quase inacessíveis ao ser humano comum. Quando finalmente ela morre, os irmãos têm uma surpresa assombrosa. Preparando-a para os funerais, reconhecem a sua condição feminina. Contam então para o Prior, que imediatamente ordenou a pompa de um funeral real. Ela foi reabilitada somente após a sua morte. Seus feitos durante seu exílio foram relatados aos superiores e conta-se que a sua canonização se deu sem nenhuma objeção. Para quem se interessar por mais detalhes desta impressionante história, eu publiquei um livro no ano passado: “Célia Lúcius, Santa Marina”, que apresenta documentos históricos e fotos da devoção a esta mulher impressionantemente maravilhosa.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Santa Marina I parte (Monitor 13/06/09)


É comum escutar o nome Santa Marina associado a uma conhecida marca de aparelhos de jantar em peças de vidro resistente. É, no entanto, pouquíssimo ou nada conhecida a personagem canonizada pela Igreja Católica no século V. Sua história ficou conhecida no ocidente a partir do século XI, quando suas relíquias foram trazidas para Veneza por Godofredo de Bouillon, o herói da primeira cruzada. Em ação política na cidade de Alexandria, no Egito, descobriu ele o culto popular a esta desconhecida personagem e encantou-se com a sua história. Descobriu o nobre bolonhês que a estranha moça internara-se num mosteiro católico na cidade de Alexandria, provavelmente no segundo século, e lá vivera um drama comovente. De provável origem nobre, a moça ficara órfã e para proteger-se da maldade humana travestiu-se de homem e asilou-se num monastério cristão. A história de Santa Marina espalhou-se pelos arredores de Alexandria e pelo chamado arco Mediterrâneo, convertendo-se num mito. È reconhecida no Egito, no Líbano, na Europa oriental e na ocidental, especialmente em Veneza. A sua biografia é encontrada nas línguas árabe, siríaco, italiano, espanhol e inglês. É venerada pelos católicos, maronitas, ortodoxos russos e ortodoxos gregos. Os Mosteiros daquela época eram exclusivamente para homens. Ela, então, vestiu-se como o pai, que era também religioso. Apresentando as credenciais paternas, foi aceita na clausura como um jovem emberbe sob o nome de Frei Marinho. Foi submetida então, aos duros encargos de um noviço. Da limpeza à provisão do monastério. Era encarregada de periodicamente deixar a sua cela e encaminhar-se à cidade mais próxima para comprar mantimentos. As distâncias eram percorridas a pé. Periodicamente então, ela caminhava alguns quilômetros celeremente para adquirir os gêneros alimentícios para a comunidade. Pernoitava na estalagem do próprio fornecedor e retornava no dia seguinte ao convento. Moravam nesta estalagem o fornecedor e sua filha. Esta se encantou com o jovem noviço e declarou-se para “ele”. Naturalmente, Marina esquivou-se da sedução, dizendo-se fiel aos seus votos. Tempos depois, a inquieta moça engravida e conta ao seu pai, o fornecedor, que havia sido seduzida pelo Frei Marinho nos seus pernoites na estalagem. O pai vai imediatamente comunicar o fato ao prior do convento. O Frei Marinho é acusado diante de todos os frades e não se defende. É expulso da comunidade e quando nasceu o bebê, o prior permitiu que ele morasse num casebre frio com o pequeno, sem, no entanto ter direito algum na irmandade. Ali o Irmão Marinho criou o seu “filho”, plantou um pomar e fundou uma pequena escola. Continuaremos.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

domingo, 14 de junho de 2009

Programa de saúde total às comunidades rurais e assentamentos


Cerca de 400 pessoas, entre crianças, adultos e idosos, foram atendidas ontem no Assentamento Dandara dos Palmares, durante todo o dia, na Jornada de Saúde e Cidadania, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, através da superintendência de Saúde Coletiva e estudantes do Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense. “A proposta é levar assistência médica às comunidades mais distantes do município”, afirmou o superintendente de Saúde Coletiva do município, médico César Ronald, destacando a importância da ação, porque em muitas dessas localidades, os moradores não dispõem de tempo nos dias de semana para procurar atendimento médico. “O projeto vai atender a todos os assentamentos e acampamentos dos sem-terra e comunidades quilombolas do município”, explicou acrescentou.


Na foto , o diretot do Centro de Referência e Tratamento da Criança e do Adolescente, o Dr. Luís Alberto Mussa Tavares está pessoalmente atendendo as crianças.


Estas comunidades são as que registram maior índice de deficiência no acompanhamento ao pré-natal e baixa cobertura vacinal. “Hoje (ontem) estas comunidades estão recebendo vacinação contra tétano, hepatite B, pneumonia e paralisia infantil, além de aferição de pressão arterial, medição da taxa de glicose, atendimento clínico e pediátrico. Os adultos também estão recebendo orientações sobre doenças sexualmente transmissíveis, com distribuição de preservativos”, explicou o superintendente de Saúde Coletiva.


Além do Assentamento Dandara, outras comunidades, como o Assentamento Josué, Acampamento Madre Cristina e povoado da localidade de Periquito, estão sendo atendidos. O assentado Carlos Alberto Vargas, 44 anos, aproveitou o sábado para levar a filha Maria Madalena, de 2 anos, para colocar o cartão de vacina em dia e passar por uma avaliação médica. “Minha filha não estava com o cartão de vacina em dia, porque é muito distante ter que levá-la para vacinar. Eu também, há muito tempo não vou a médico. Esse tipo de atendimento é de extrema importância para nossa comunidade”, disse Carlos Alberto.
(Fonte: O Diário 14 de junho de 2009)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A LEI SOCIAL DO EVANGELHO (Monitor 06/06/09)




Jesus pregou a Justiça Social que deveria começar pelo coração dos homens. Dessa forma falou às multidões, mas teve piedade do povo faminto. Não se esqueceu de alimentá-los. Para a maravilha da centuplicação dos pães, impôs Jesus uma regra: que se assentassem e permanecessem calmos. Depois, que se dividissem em grupos de cinquenta e cem. Logo, Jesus pediu para que aqueles que tivessem algo em poder particular, que fosse oferecido para proveito de todos. Foi dessa forma, com ordem e despojamento que se produziu o fenômeno conhecido por multiplicação. Organização e desapego aos próprios bens. Esses são os pressupostos fundamentais para o combate à fome. Sem as idéias da organização social e sem o sentimento de fraternidade, não há como multiplicar as provisões. Ao contrário, perde-se até mesmo o que se tem. Fazer tudo com decência e ordem, ensinou-nos Paulo de Tarso. Método e Altruísmo, eis os ingredientes do milagre. A Fome na Terra pode ser combatida com a organização social e com o estímulo à fraternidade, à solidariedade, à filantropia. A regulamentação da assistência, através de um Serviço Social científico, base de todo trabalho social atual, converte sobras, fartura e opulência de alguns, na sobrevivência de muitos. Jesus aliou o amor ao próximo à caridade da palavra. Saciou a fome daquele público, mas ofereceu-lhes também normas de bem viver, estratégias de uma ética superior. Ensinar os famintos a viver e descobrir que existe fome além da necessidade de saciar-se, além da saciedade gástrica. “A gente não quer só comida...”, já dissera o Arnaldo Antunes, dando uma dica de que o povo quer arte, alegria, amor. Jesus disse isso! Ensinou aos que alimentam o corpo, a alimentar também as suas almas. Quem tem a fome mitigada, pode pensar melhor. Quem pensa melhor, pode sentir melhor. Quem sente melhor, pode agir melhor. Quem age bem, vive melhor e faz outros viverem melhor e promove a criação de uma corrente do bem que só tende a alimentar o círculo virtuoso. Existe um alimento que não se dissolve na bioquímica da assimilação digestiva: o amor! Jesus quer a Justiça aliada à Bondade. E quer uma bondade operosa, dinâmica e criativa. Essa é a equação mais simples e a mais difícil de ser solucionada em nosso mundo. O mundo governado pelo egoísmo. As teses do sistema econômico capitalista vicejam numa sociedade arcaica. Plantemos os ideais de um mundo novo, através da aplicação do princípio social do Evangelho.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

sábado, 6 de junho de 2009

Verônica, a Hemorroíssa (Monitor 30/05/09)



Para uns se chamava Berenice.
Verônica para outros.
De alegria cativante, esta mulher,
Secou a lágrima de um enfermo e disse:
-Coragem amigo, pois nosso Deus é esperança.
Agia assim desde criança.


Casou-se com jovem construtor.
Tiveram um filho, fruto de amor.
Entretanto, um tumor
Causou-lhe prolongada hemorragia.
Além de terebrante dor,
Era uma doença que lhe constrangia.


De acordo com a legislação,
Tornara-se toda impura.
Nada mais ousasse tocar.
Estava sob tremenda maldição.
E esse seu mal não tinha cura.


De longe viu o filho a crescer
Sem poder amamentá-lo.
Ansiava ao colo tomá-lo.
Sonhava o esposo ter.


Todavia, a tradição
Expressa na Torah,
Enquistou-a em seu lar,
Oprimindo-lhe o coração.


Impedida de o filho criar
E de ser uma esposa de fato,
Assistiu seu esposo a deixar,
Não mais viu o recém nato.

Percorre uma via crucis:
De esculápio a esculápio.
Muitas promessas à infeliz,
De louco, charlatão e larápio.

Alijada do convívio social,
Nunca era vista nas ruas.
Absorvida em seu próprio mal,
Nem família e casa eram suas.

Decretada impura pela religião,
Dos velhos profetas de Israel.
O Levítico relegava-a a solidão,
Pois dizia que seu toque era fatal,
Inoculando tudo que alcançasse,
Com os miasmas de seu mal.

Ventos lhe trouxeram, entretanto,
Notícias de um taumaturgo
Que corria as estradas empoeiradas
Da Judéia, Galiléia e Samaria.
Curou Bartimeu, restaurou Maria,
Levando, assim, a paz a cada burgo.

Bem afamado este profeta se tornou.
Ensinava o homem a ser como criança.
Levantava os caídos falando-lhes do amor.
Esse santo, então, concentrou sua esperança.

Avistou-o, enfim, um dia.
Seria verdadeira a imagem que via?
Um homem irradiando tanta luz!
Seria a solução de seu destino
Aquele fogo no seu mediastino?
Disseram a ela que seu nome era Jesus.

Mas como apresentar-se a ele?
Como falar-lhe do seu mal?
Iria transgredir a lei e o tribunal.
Tocaria o manto dele,
E sararia afinal.

Aproximou-se pela retaguarda
Movida por coragem e tanto.
E por uma abertura nada larga,
Tocou a orla de seu manto.
Foi então que sentiu atravessar seu dorso
Uma força que desconhecia.
Algo que um de nós, hoje, diria:
-Foi uma corrente elétrica
Que lhe alcançou todo o corpo,
Deixando-lhe extática.

Após esse indescritível frenesi,
Percebeu um misto de harmonia
Com o tremor que ainda sentia
Dentro de si.

Secara-lhe a fonte da hemorragia
E antes que pudesse afastar-se dali,
Jesus pára e desconfia
Que alguém o tocara ali.

Diz Pedro, o primeiro do time:
-Como saber? Se a multidão o comprime?
Mas sabe Jesus a que alude,
Pois viu e sentiu de si sair
Uma virtude!

Temendo e ainda tremendo, a ex-hemorroíssa,
Arriscou um julgamento com sua confissão.
Disse, prostrando-se no chão:
-Fui eu Senhor, cometi uma injustiça?

Falou Jesus, todo bondade:
- Verônica, minha filha,
Esteja curada de tua enfermidade.
Sei que sabes quem eu sou ,
Mas creia que a verdadeira maravilha
Foi tua fé que te salvou!
.
.
.