Juliana Rocha Tavares*
Quando falamos do samaritano nos dias de hoje, sempre nos lembramos daquele homem bom que interrompeu sua viagem para prover ao pobre judeu ferido e abandonado no meio do caminho de tudo quanto ele necessitava. Mas essa imagem do bom samaritano que temos nos dias de hoje não corresponde à visão dos religiosos judeus na época de Jesus.
A Bíblia relata que povos estrangeiros foram transladados para habitar o território das populações deportadas. Estes estrangeiros teriam criado uma religião nova, que misturava elementos hebraicos e pagãos e encontram-se na origem dos Samaritanos. [1,2]
Por não seguirem a risca os preceitos judaicos, adotando práticas pagãs, os samaritanos sofriam, deste modo, forte preconceito.
Hoje em dia, os samaritanos podem ser simbolizados por algumas minorias (ou maiorias) que sofrem forte preconceito de segmentos religiosos, como os homossexuais, os agnósticos, os que professam religiões diversas às religiões “corretas”, entre outros grupos. Todas essas pessoas são julgadas pelos religiosos comuns (não estamos nos referindo a todos os religiosos) que as condenam para o inferno eterno, quando Jesus nos orientou a nunca julgarmos. [3]
“Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho?”
Relembrando o texto da parábola [4]:
“Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.”
Durante toda a sua vida, Jesus lutou bravamente contra todas as formas de preconceito: preconceito contra as mulheres, preconceito contra os ladrões, contra as meretrizes, contra os malfeitores. Nesta parábola, Jesus combate nitidamente o preconceito religioso. Os homens que passaram pelo ferido antes do samaritano, o levita e o sacerdote, eram fiéis observadores da lei de Moisés, freqüentavam e cuidavam do templo, mas não tinham amor no coração. Eram os hipócritas da época de Jesus.
Hoje em dia, podemos encontrar muitos hipócritas em todas as religiões. Condenam aqueles que não seguem os seus preceitos (que não correspondem aos verdadeiros preceitos cristãos) e não praticam atos de caridade para com o próximo. Olham para o argueiro no olho do outro e se esquecem das traves que embotam a sua visão.
Nestas últimas eleições, alguns grupos religiosos têm indicado que seus fiéis votem em um fulano e não votem em cicrano, já que “fulano é do Senhor” e “cicrano é de satanás”. Seguindo estas orientações nada orientadas pelo conhecimento evangélico, provavelmente votaríamos no sacerdote e renegaríamos o samaritano, já que este é “impuro”, não é “de Deus”.
Essa não é a opinião geral dos cristãos. Sugiro a leitura de um artigo do pastor Eduardo Santana [5] e de uma carta aberta da CNBB [6].
Respeitando o livre-arbítrio de todos os eleitores, faço um apelo aos cristãos para que não aceitem posições unilaterais de alguns religiosos prepotentes. Os eleitores devem tentar ver além dos preconceitos religiosos, condenados por Jesus. Devemos observar a parcela de bem realizada por nossos candidatos e também por seu grupo político, já que nenhum candidato governa sozinho.
Se nós, como cristãos, tivermos que escolher alguns parâmetros na hora de votar, sejam os parâmetros de Jesus [7]:
“Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não me visitastes. Então, eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.”
*Doutoranda em Física na UENF, Professora do IFF Campos.
Referências Bibliográficas:
1. POLIAKOV, Léon; FIRMIN, Gilles - Les Samaritains. Éditions du Seuil, 1991. ISBN 2-02-012156-5
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Samaritanos#Perspectiva_judaica_ortodoxa. Acesso em 11/10/2010.
3. Mt 7: 1-5
4. Lc 10: 30-37
5. http://meduardosantana.wordpress.com/2010/10/06/eleicoes-2010-artigo-de-um-pastor-presbiteriano-sobre-os-boatos/. Acesso em 11/10/2010
6. http://www.cbjp.org.br/index.php/nota-da-comissao-brasileira-justica-e-paz. Acesso em 11/10/2010
7. Mt 25: 34-45