
Sempre gostei daquelas provas de Literatura em que nos era dado um texto para interpretação.
Gostaria muito de ter comentado o texto de Chico Buarque sobre o Malandro:
"Eu fui fazer um samba em homenagem
A nata da malandragem
Que eu conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
Que aquela tal malandragem,
Não existe mais.
Agora já não existe mais.
Agora já não é normal
O que dá de malandro regular, profissional.
Malandro com aparato de malandro ofiecial.
Malandro candidato a malandro federal!
Malandro com retrato na coluna social.
Malandro com contrato, com gravata e capital,
Que nunca se dá mal...
Mas... o malandro prá valer
(Não espalha!)
Aposentou a navalha,
Tem mulher e filhos e tal e tal.
Dizem as más linguas que ele até trabalha,
Mora lá longe e choacalha
Num trem da Central"
Em primeiro lugar, um sambista como Chico Buarque , diz que quer homenagear aqueles antigos malandros da Lapa e eu me lebrei logo de Moreira da Silva, como um típico malandro na acepção do termo empregada pelo autor.
Diz que perdeu a viagem pois não há mais clones novos de Moreira da Silva na Lapa.
E começa a ver aonde estão os malandros da atualidade.
Tudo profissionalizado. Aparelhados para agir na legalidade. O que era feito de uma forma ilegal, mas quase na ingenuidade, hoje é infinitamente mais malicioso e pernicioso, porém legal.
Os candidatos a cargos eletivos são os grandes malandrões da sociedade. Vagabundos corruptos, eleitos para cargos públicos patrocinados por empresários corruptores que sangram o dinheiro público com a cara encerada.
E esses malandros estampam os locais reservados à Calúnia Social nos jornais da burguesia que fede.
Eles recebem os contratos privilegiados pelos políticos safados que eles elegeram com o dinheiro público desviado. E esbanjam o seu capital nas orgias do capitalismo selvagem.
E nunca se dão mal. Isso é uma constatação. Os grandes malandrões da nossa pátria nunca foram pegos. E se dão bem no fim.
Isso faz-me recordar uma cena do seriado ANOS REBELDES , estrelado por Cassio Gabus Mendes e Malu Mader. Numa cena quando o personagem de Cássio, que é o alter ego do Alfredo Sirkis, retorna do exílio em 1979, na Anisitia, pergunta Malu sobre os seus colegas dos tempos do Colégio Pedro II. Para resumir as respostas, Malu responde: " Os safados, todos se deram bem..."
Essa é a nossa realidade, malandro é aquele que conhece os caminhos do esgoto social, e como um bom rato, embrenha-se pelos porões da ilegalidade e no final, fica sempre bem na mídia, bem na fita, bem para a massa ignara.