quinta-feira, 30 de abril de 2009

NAGIB MUSSA

Meu avô materno, Nagib Mussa era libanês de nascimento e imigrou para o Brasil, após casar-se com a minha avó Maria, nos anos 20 do século passado. Ele foi um avô “de livro”. Era velhinho, usava terno, suspensório, chapéu e relógio de bolso. Sentava em cadeira de balanço e falava baixinho. Foi professor de árabe em São Paulo e ao fixar-se em Campos, iniciou com a minha avó pequena manufatura de camisas masculinas. Jamais, entretanto, deixou de cultivar a literatura e a religiosidade, tornando-se um cidadão honrado na nação que o acolheu. Não ficou rico, na verdade, nem uma casa ele chegou a possuir, morou a vida inteira em casa alugada. Mas, dotado de uma sabedoria incomum, ensinou-nos a nós, netos, valores da cultura oriental, imantados de espiritualidade e bondade. Certa feita comentou o seguinte provérbio árabe: “Não digas tudo o que sabes. Não faças tudo o que podes. Não acredites em tudo o que ouves . Não gastes tudo o que tens . Porque: Quem diz tudo o que sabe . Quem faz tudo o que pode .Quem acredita em tudo o que ouve .Quem gasta tudo o que tem . Muitas vezes: Diz o que não convêm ! Faz o que não deve ! Julga o que não vê ! Gasta o que não pode !” Meu avô era terno e nunca perdia tempo. Lia os jornais, conhecia história, amava a poesia, era poliglota. Além da cultura humanística, ele conhecia a história das religiões e lia sobre todas as doutrinas religiosas. De origem Ortodoxa Grega, aderiu ao catolicismo romano assim que chegou ao Brasil. Mas não deixou de interessar-se pelo hinduísmo, pelo budismo, pelo espiritismo, pela teosofia, sempre acrescentando mais verdades parciais à verdade que subsiste às facções humanas. Quanto à sua conduta, foi sempre um homem íntegro, legando aos filhos um exemplo de luta, de coragem e de amor. Seus livros tinham anotações em árabe, pois segundo ele, o verdadeiro sentido de algumas idéias necessitava de palavras que não existiam em nossa língua. E nós crescemos, escutando os nossos avós a dizerem certas palavras do cotidiano em língua árabe, que se tornaram naturais para nós netos. Expressões como “meus olhos” para significar “meu querido”, expressões de piedade, de encorajamento, de bênção, de carinho em língua árabe foram naturais em nossa infância. Até mesmo algumas canções de ninar em árabe nós aprendemos com nossos avós. E se um exemplo vale mais que mil palavras, alegro-me em confessar que os de meu avô Nagib Mussa ainda estão presentes em minha memória e em meus atos. Vovô! Minha saudade e a Sua bênção!

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