sábado, 18 de abril de 2009

PÁSCOA É RITO DE PASSAGEM !


A sofisticação de nossa sociedade tem acomodado o ser humano na busca de comodidades. É um retorno psicológico ao Egito histórico, que cresceu às margens dadivosas do Nilo. Um retorno ao modus vivendi do país dos faraós. Um dia, por uma ordem misteriosa, Moisés fez o seu povo abandonar seus haveres na terra da servidão e lançar-se a uma aventura no deserto, pela confiança promessa de Deus. Moisés lhes dizia que suas posses eram de seus opressores. Diante de sinais surpreendentes a massa humana seguiu Moisés na jornada longínqua. E de tal modo essa viagem se prolongou, com seus muitos percalços, que o povo duvidou e sentiu saudade de sua vida e de seus pertences materiais. Até mesmo da adoração aos ídolos que lhes facultava favores, este povo sentiu falta. Moisés, então, gravou em pedra, dez artigos que até hoje, são a base da justiça humana. A Páscoa é a passagem da terra da servidão para a terra prometida.
Erich Fromm, psicanalista alemão que associou o método freudiano à análise marxista da sociedade considerava que o ser humano tem medo à liberdade, tema, aliás, de um de seus livros. "A história da humanidade é a história da busca da individuação e da aspiração de liberdade", diz Fromm. Buscar a liberdade é mais difícil que aceitar a servidão. A história tem sido um fluxo e refluxo de nossos estados de retorno à servidão com alguns poucos surtos de busca de liberdade. A egiptificação da sociedade conduz as mentes a adorarem os novos ídolos do capitalismo. É o politeísmo pragmático, a idolatria dos deuses do mercado. Mamon é o grande deus do mercado financeiro. Converter o vício da terra da servidão em virtude da terra da promessa é a maior arte dos que crêem na Páscoa. Não apenas na libertação de um momento, mas a libertação atemporal. Pessach é a passagem através do deserto. É um novo rito de passagem metafísico quando o homem deve buscar novos valores para sua existência. Deserto é lugar de aridez, de solidão, de abandono, de secura de alma, de conflitos, de nostalgia da servidão, de vontade de retornar ao passado de erros, de quedas na idolatria e na sensualidade, de vergonha de nossa indolência, de nossa covardia e de nossa cupidez. Mas também é no deserto que nos vem a bênção, que nos vem o maná, que guarda os oásis auspiciosos e as promessas de esperança. Páscoa, educação para a liberdade. Não para voltar aos vícios da servidão, mas para convertê-los em virtudes da liberdade. Jesus é a passagem dos cristãos. Ele personifica em si mesmo a travessia que precisamos enfrentar para a verdadeira conversão do espírito.

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