sábado, 24 de outubro de 2009

SOBRE O NOVO ENEM


Não sou professor, mas tenho uma grande alegria. Sou filho de professores e pai de três professores. De seis anos que passei na UFRJ, quatro dediquei-me à monitoria de Parasitologia, onde pude ter a grata experiência pedagógica. Apesar gostar de ser médico, confesso que há em mim uma pequena frustração por não ser professor. Mas como a vida começa aos cinqüenta, ainda tenho esperanças de um dia ser professor. O ENEM está em evidência, pois sua última edição foi furtada Não obstante a idéia de um exame nacional ser bem simpática a mim, apresento aqui o pensamento cuidadoso de minha filha Juliana, professora de Física do Anglo e do IFF, que escreveu para mim a sua avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio. Reproduzo então nesta coluna o texto da Professora Juliana Rocha Tavares:


No Brasil, infelizmente, as mudanças costumam começar do final, não do início, como era de se esperar. Um exemplo disso é o novo ENEM. Prepara-se uma prova inovadora, com conteúdos contextualizados e interdisciplinares e aplica-se a alunos ‘treinados’ em uma educação altamente específica, conteudista, baseada em fórmulas e decoreba. Os livros didáticos e os professores adestram os alunos para o antigo vestibular (ou simplesmente: não preparam para nada) e os alunos, de repente, deparam com um novo tipo de prova, para a qual nunca puderam se preparar. O ideal seria que, inicialmente, os gestores da educação, assessorados por uma equipe de professores de diferentes disciplinas definissem quais conteúdos são realmente necessários para o desenvolvimento do aluno. Essa definição não deveria se pautar em interesses comodistas que buscam uma relação nem sempre perfeita de conteúdos que já são ensinados com algumas situações que supostamente ocorrem no dia-a-dia. Acredito que pensando de uma forma mais ousada e sem apego a conteúdos tradicionais, mais da metade das fórmulas, nomes, conceitos, esquemas, problemas tão difíceis como improváveis, iriam desaparecer completamente da educação brasileira. A partir de então, um grupo de professores começaria a preparar o material didático inovador, interdisciplinar, com menor carga de conteúdos e exercícios repetitivos. Esse material em várias mídias poderia ser distribuído por todo o Brasil, estando sujeito, é claro, a pequenas adaptações locais. A partir de então, os professores passariam por cursos de atualização e treinamento, a fim de melhor encaminhar o processo inovador de ensino-aprendizagem. Consequentemente, novos alunos estariam aptos, num contexto de uma educação renovada. Por fim, aptos para melhor encarar a vida e também aptos para o novo ENEM, que seria um retrato da vida.”

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