quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O ÚLTIMO DIA...


O ÚLTIMO DIA ...


Flávio Mussa Tavares



( Dedicado à memória de Maria Clara Rangel Pimenta)


Há sempre um último dia...
E causam muita emoção, em geral, alegria.
O último dia de solteiro.
O último dia de aulas.
O último dia de trabalho no ano, com direito a chuva de papel picado.
O último dia do ano.
O último dia de trabalho na vida, com direito à melancolia da aposentadoria.
O último dia da internação hospitalar.
O último dia do tratamento de quimioterapia.
O último dia de prisão, com direito à esperança de um novo tempo.
O último dia de férias.
O último dia da viagem.
O último dia antes da graduação.
O último dia de estudante.
O último dia da semana.
O último dia do mês.
O último dia da estação.
O último dia no útero.
O último dia. Sempre há um último dia. Em geral, este último dia é previsto e esperado com ansiedade ou esquiva. Só um dia é sempre um mistério. O dia de nossa morte.
Acordamos aquele dia, nos levantamos e realmente não sabemos que é o nosso último dia na Terra dos homens. Ninguém sabe quando será o incrível dia em que a indesejada das gentes nos fará transpor o último dos portais de nossa existência.
Para muitos, o portal é uma transposição dimensional, embora a nossa lógica cerebral nos faça imaginar uma transposição espacial e temporal. Coisa de cérebro. Coisa dos programas do cérebro.
E para alguns outros não há nenhuma transposição e o último dia é definitivo. Mas para todos é o mais importante dos últimos dias de nossa existência iniciada com o nosso nascimento.
Interessante notar a similaridade dos últimos dias do útero e da vida física. Ambos nos conduzem a uma idéia de fim de existência.
Talvez seja por isso que o bebê chore. Com medo da “morte” da vida fetal.
E talvez seja por isso que, por memória cerebral, tenhamos medo do momento da morte. Quiçá o caminho inverso que realizamos em relação ao nascimento.
Mistério!
Há um provérbio inglês que diz: "Life begins in the womb and ends in the tomb". A vida se inicia no útero e finda no túmulo.
Eu prefiro não ver dessa forma.
Todavia, o corolário de toda essa filosofia é a preparação para o grande momento.
Assim como gostamos de aproveitar o último dia de férias, celebrar o último dia de trabalho, ou de solteirice, ou de estudante, férias, viagem, do ano, da prisão, da internação, do tratamento...
Assim também seria interessante estar apto a festejar o último dia na vida física. Quando será? Não poderemos saber.
Mas certamente será bom se pudermos vivenciá-lo com alegria após a transposição de dimensões.
Será bom vivê-la com alegria, após a última viagem.
Será bom vivê-la com alegria após vencer o último grande inimigo, no dizer do apóstolo Paulo.
Quem sabe, a decisão inteligente seja viver a cada dia como se fosse o último dia?

4 comentários:

Celso Vicente disse...

Flávio, maravilhosa sua reflexão!
Celso

[m_] disse...

Vi um filme, há muito tempo, chamado "A última grande lição", com o inigualável Jack Lemmon... Nesse filme, ele sugere que deveríamos, todos os dias, ao acordar, imaginar um pássaro em nosso ombro e perguntar a ele: Será hoje o meu último dia na Terra?
Não me lembro se a frase é exatamente essa... mas o sentido certamente é.
Seu lindo poema me fez lembrar desse filme... e também da frase: "Muito tarde é que se vê que não se amou bastante".

Belíssima reflexão, Flávio.

Beijo da sua irmã!

Patrícia Bueno disse...

Parabéns pelo texto sensivel e realista. E como seria bom se conseguíssemos viver cada dia como se fosse o último... Acho que tentaríamos ser mais felizes e faríamos bem mais felizes as pessoas que estão a nossa volta. Abraços.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Lindo, dr Flávio.