domingo, 15 de fevereiro de 2009

Padre Émile Des Touches ( Monitor Campista, 14/02/2009)





A Rua Padre Des Touches, conhecida por todos, localiza-se em nossa cidade no Parque Leopoldina. Entretanto, poucos hoje sabem quem foi esse eminente pároco católico. Meu pai, Clóvis Tavares conheceu-o na infância, em São Sebastião, na baixada campista. Ele ensinou meu pai a orar, ensinou francês e manteve com aquele menino de nove anos intermináveis colóquios filosóficos. Clóvis era um menino diferente, não gostava de bola, mas amava os livros. O Padre Des Touches, contava-nos papai, nasceu na França, descendente de condes e barões. Sabe-se que sua nobre família possuía um castelo nas proximidades de Paris. Ordenou-se sacerdote na Igreja Católica e, no desempenho de seu múnus eclesiástico, foi um cristão exemplar. Renunciou a sua herança e solicitou uma missão no Brasil. Não foi compreendido em sua decisão radical, entretanto, era digno e virtuoso, profundamente amigo de Jesus em seu genuíno despojamento evangélico. Foi muitas vezes mal interpretado por seus próprios pares, que não puderam aceitar sua alma lucidamente abnegada e santa. E digo santa na sua acepção mais alta de verdadeira saúde. Abandonando os bens e as glórias do mundo, deixou para sempre o seu palácio e suas riquezas na França, onde era um aristocrata. Seu nome nobre era Émile Hertoux Des Touches de Calignie des Fenets. No Brasil, mais precisamente em São Sebastião, era simplesmente Padre Des Touches. Foi um apóstolo humilde de Jesus, vivendo como pobre entre os pobres, em renúncia franciscana, incompreendido e magnânimo, incansável no bem e na caridade: um símbolo vivo do amor. Suas homilias eram uma legítima pregação do Evangelho, exortando aos que o escutavam a mudar suas predisposições emocionais. Contou-me papai, que muitas reconciliações se fizeram por seu intermédio. Diziam que “com o Padre Des Touches era mais fácil perdoar”. Revelou sempre grande cultura e super-humana humildade e jamais foi um intolerante religioso, tratando a todos com a mesma candura de alma. A última vez que meu pai o encontrou foi em Campos. Papai era um estudante do Liceu, estava um pouco esquecido das lições do Evangelho e abraçava no momento o ideal marxista. Des Touches olhou para o jovem de 15 anos, que carregava nas mãos um livro de La Fontaine e disse: - Você vai conhecer alguém maior que La Fontaine! Des Touches morreu em Campos, aos 14 de novembro de 1930.



Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

Um comentário:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

O senhor é mais que um médico, mais que um "homeopata" uni ou pluri, mais que um blogueiro, mais que...
o senhor é um homem que tem um olhar entre...

Olha a palavra da verificação:
trama, vejo: tem rama, tem ramos, tem raiz... vida... videira...
lindo isto...

Um copo dágua refrescante...