segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

João Batista, Buda e o Caráter

MonitorCampista, 31 de janeiro de 2009

João Batista nos propôs na sua pregação de arrependimento uma revisão de nossos padrões de comportamento. Ele foi um grande psicólogo e adotou um método cognitivo comportamental. Sabia ele, intuitivamente, que o nosso cérebro constrói padrões comportamentais que são nada mais que estratégias que costumam funcionar bem através de nossas vidas. Por exemplo, a rebeldia funciona, o egoísmo funciona, a ambição, a ira, a violência, a inveja, a gula. Todas estas estratégias são empregadas automaticamente por nós na infância e muitas delas permanecem após a idade madura. Isso demonstra que o amadurecimento espiritual é sempre tardio. Construímos o nosso presente a partir de nosso passado e o nosso futuro sobre o substrato que chamamos presente. Portanto é possível programar nossa vida segundo nossos padrões de pensamento e de comportamento. A sequência apresentada Sidharta Gautama, o Buda, conhecida como cadeia búdica é: Vigie seus pensamentos, eles se tornarão seus desejos. Vigie seus desejos, eles se tornarão suas palavras. Vigie suas palavras, elas se tornarão suas ações. Vigie suas ações, pois se tornarão um hábito. Cuide de seus hábitos, pois se tornarão seu caráter. Cuide de seu caráter, pois ele construirá seu destino. Percebe-se que em cada elemento da cadeia a possibilidade de atuação é diferente. Para vigiar os nossos pensamentos e os nossos desejos, pode-se buscar ajuda psicológica e também a religião. Para controlar as ações, há a ajuda da religião, repressora. Muitos deixam de cometer atos oriundos da ira, por causa de uma proibição moral. A repressão da violência que reside dentro de nós impedirá que ela se converta em um hábito, isto é violência por impulso, violência automática, indomável. Para os hábitos, que são hoje considerados comportamentos compulsivos e obsessivo-compulsivos, a religião sozinha é insuficiente. É necessária a atuação de uma terapia, em geral da linha cognitivo-comportamental. Esta ajuda a pessoa a libertar-se das "ordens" inatas para a ação inconveniente ou anti-social. Quando o caráter está envolvido, e o indivíduo se tornar incapaz de sentir o desconforto do seu mau hábito, só mesmo através dos medicamentos é que poderá ser estabilizada a sua patologia psíquica.
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Flávio Mussa Tavares

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