sábado, 23 de maio de 2009

O MÉDICO E A RELIGIÃO Monitor Campista 16/05/2009



Tem direito um médico de falar sobre espiritualidade em seu consultório?

É anti-ético considerar a necessidade de vida espiritual de alguém que sofre? Pode o médico sugerir uma reconciliação? Aprendi que a saúde é um completo estado de bem estar que envolve não apenas o corpo, mas a mente, a vida social e a vida espiritual. Saber como anda a espiritualidade de um paciente é fundamental. Uma pesquisa publicada numa revista americana (Archives of International Medicine, agosto de 1999) questiona o público sobre o quesito religiosidade na consulta médica. “Você acha que seu médico deveria obter informações sobre sua religião?” Sim: 66%. Não: 34%. “Você concordaria que seu médico fizesse uma oração em uma consulta?” 19% Sim, numa consulta de rotina; 29% num contexto de internação; 50% numa situação de morte iminente. Por outro lado, a prevalência de temas relacionados à espiritualidade, à culpa religiosa, a assuntos místicos ou paranormais faz, de todos os que sofrem, necessitados de conforto emocional, de paz de espírito e de conhecimento das leis da vida. O médico não precisa necessariamente ter fé. Entretanto, ele pode e deve saber que o paciente que tem fé tem melhor prognóstico. Na revista “Psiquiatria na prática médica”, da Unifesp foi publicada uma entrevista com 34 mil pessoas revelando que a prática religiosa produz um estado de alegria e bem estar emocional. Sugerir a um deprimido buscar uma religião não é proselitismo. O médico não deve indicar a religião “a” ou “b”, mas pode sugerir que se busque uma religiosidade que complete o seu vazio existencial. Se para muitas pessoas que tem ansiedade, o exercício físico é considerado uma renovação de energias. Se para estes, o trabalho é também uma fonte de oxigenação da mente. Se o convívio social salutar é reconhecidamente uma necessidade. Se a arte, a criatividade, o saber científico, são notadamente aspectos fundamentais para a integridade psicológica de todos nós. Como não reconhecer que para alcançar a tão almejada felicidade, necessitem algumas pessoas da transcendência? Indicar a busca dessa transcendência aos que estão oprimidos não é empregar a religião como muleta, mas reconhecer que ela faz parte de nosso inconsciente. O homem primitivo reverenciava a natureza. O homem moderno precisa reverenciar algo e ter o sentido do sagrado. Isso vai conferir plenitude à sua vida emocional. Ser completo não é apenas ter amigos, emprego e fazer exercício, é também sentir que o universo pode pulsar dentro de cada célula de nosso corpo através de uma oração.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

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