domingo, 23 de agosto de 2009

A PANDEMIA DO MEDO


Realmente estou achando interessantíssimo toda essa onda de higiene que tomou conta das mentes de todas as idades. Estou tendo a oportunidade de observar a preocupação com o asseio e com a esterilização em pessoas que antes eram quase que totalmente inconscientes da realidade micorecológica de nosso mundo. Entretanto a pandemia de medo, fez com que certas pessoas perdessem o bom senso. Pedem-me vacina homeopática para a gripe suína. Ora, isso é uma inconseqüência, que eu, como médico, não posso indicar. A homeopatia é realmente uma farmacotécnica que propõe a ultradiluição de um mal para prevenir as pessoas contra aquele mesmo mal. Mas isso jamais se aplica a uma questão como a Influenza A. Estão divulgando na internet uma receita homeopática como se fosse uma vacina, mas decididamente não é. Trata-se do Oscilococcinum, um autolisado filtrado de fígado e coração de pato, que é muito bem indicado para infecções do trato respiratório superior e do Influenzinum. Este último é uma preparação bem definida, cuja fonte vem do Instituto Pasteur proveniente de cultura de duas variedades de vírus: uma sendo da banal APR-8 e outra A Singapura 1-1957. Esta última é aquela da gripe asiática. A proporção desta mistura é de três partes do vírus asiático e uma parte do grupo europeu. Estes vírus são cultivados sobre embriões de galinha e titulados pela reação de hemaglutinação de Hirst após purificação, concentração e inativação pelo formol. A fonte de Influenzinum é titulada em 500 unidades hemaglutinantes por mililitro. Vale dizer que o Instituto Pasteur prepara especialmente a mistura para utilização homeopática. Essas duas preparações são eficazes no tratamento sintomático de afecções respiratórias, mas jamais podem ser consideradas como vacinas. Estou divulgando esses detalhes por que é possível que alguém tome a medicação homeopática e se contamine com o vírus H1N1 e venha a óbito. Poderão inculpar a prevenção homeopática? É claro que não. Se em Macaé, a prefeitura preferiu correr esse risco, é uma decisão política e não médica. Eu fico com a decisão médica: não há vacina homeopática, apenas medicamentos cuja experiência clínica indica uma ação sintomática, mas que não é curativa e muito menos preventiva da gripe. Sempre tive muito medo do risco do charlatanismo. Apregoar cura ou prevenção de algo que não possa ser comprovado abertamente na comunidade científica é charlatanismo. A Homeopatia, praticada por médicos conscientes que a empregam com parcimônia e como complementaridade à medicina oficial é a marca da ética e do profissionalismo.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

Um comentário:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Parabéns, dr Mussa, Campos agradece!

Verdade! Integridade! Humildade!