quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CARROS FINANCIADOS A LONGO PRAZO; Uma pouca vergonha

Existem pessoas que, naturalmente, possuem a visão muito estreita. Por exemplo: na seqüência da visão dos números, só conseguem enxergar o número 2, depois do 1; o 3, depois do 2; o 4, depois do 3 e assim sucessivamente. Há outras que têm visões um pouco mais apuradas e já conseguem enxergar opções entre o 1 e o 2: o 1,1, o 1,2, o 1,3 ... e ainda os que têm visões mais profundas ainda, em condições de enxergarem até com aproximação de centésimos, milésimos... milionésimos, ou seja, até 1,000001.
Ninguém pode exigir que todas as pessoas tenham visões profundas, já que a sociedade humana é heterogênea, em todos os aspectos. A esmagadora maioria possui visão estreita e é exatamente em cima dela que os espertalhões se aproveitam para explorar, extorquir e praticar todo tipo de safadeza com a criatura humana.
A visão estreita das pessoas é a matéria prima que os canalhas utilizam para praticarem todo tipo de safadeza, como a indústria da calúnia, da difamação, da discórdia e todo tipo de mau caratismo que existe na face da Terra.
O “generoso” empréstimo para aposentados e pensionistas, uma das mais sem vergonha propostas dos bancos e financeiras em nosso país, é um exemplo disto, que fez com que tantos velhinhos estejam passando por sofrimentos terríveis, por terem os seus parcos vencimentos reduzidos, sem condições até de comprarem os medicamentos indispensáveis à velhice. E não aparecem deputados para denunciarem tamanha crueldade praticada contra tantos milhões de brasileiros, com respaldo do governo.
E a visão estreita popular achando que bancos e financeiras estão sendo bonzinhos para os idosos, quando na verdade estão acabando com a vida deles.
Mas falemos aqui sobre esta outra safadeza que está iludindo milhões de brasileiros, que são as “facilidades” de se adquirir um carro, em “suaves” prestações mensais, que também está destruindo a vida de milhões de pessoas.
Acompanhem a linha de raciocínio, porque o assunto é sério:
Princípio básico: Todo mundo sonha em ter o seu carrinho. Aquela pessoa que nunca teve condição de ter um carro, porque o seu padrão econômico não permitiria, agora pode, diante das apelações que a sutil safadeza bancária lhe oferece.

Compre o seu carro em 72 suaves prestações, sem entrada, e comece a pagar a primeira só daqui a quatro meses!!!!!
Os juros são de apenas 1,2 por cento ao mês.

Quem é que não vai numa conversa desta?
O brasileiro que, pelo menos, faz alguma conta e percebe que quando compra eletrodomésticos em lojas, paga juros de 3 a 4 por cento, sabendo, também, que o vampiresco sistema de cartões de créditos lhe cobra 14% ao mês, quando ele atrasa, e que o cheque especial, também, tira o seu sangue com juros altos, termina achando maravilhoso ver uma proposta de financiamento de carro a juros de apenas 1,2 por cento ao mês.
Quem já tem carro, por mais que esteja funcionando bem, se acha tentado a financiar um mais novo, até mesmo zero quilômetro. Não mede as conseqüências.
Muita gente acha maravilhoso, há quem diga que o país está uma beleza e que o povo está tendo oportunidades que nunca teve antes.
- “Que bom, vou poder ter o meu carrinho, vou mostrar para a vizinhança e principalmente para os parentes, pra que todo mundo veja que agora eu tenho carro! Realizei o meu sonho!”
Mas... e as prestações?
- “Não importa, só vou começar a pagar daqui há quatro meses e a gente sempre dá um jeitinho.”
A visão estreita não deixa o cidadão enxergar que, ao adquirir um carro, não é somente o valor da prestação que ele terá que pagar todos os meses. Terá, também, a mensalidade do seguro, a despesa de combustível, pagar para estacionar nos centros da cidade, pagar as chamadas zonas azul, terá os pedágios, caso tenha que passar por estradas... enfim, vá somando.
Se o veículo for comprado para um jovem ou se for do tipo considerado popular, o valor da mensalidade do seguro é muito maior, porque as seguradoras consideram que os jovens têm maiores possibilidades de provocarem acidentes e os carros populares são os mais preferidos pelos ladrões.
Mas nada disto importa, porque a pessoa só olha para a “suave” prestação que vai pagar ao banco.

É exatamente em cima desta visão estreita da população que os bancos e suas financeiras montam as suas estratégias para acabar com a população.

Veja agora o que existe por trás disto:
Acompanhe bem a linha de raciocínio:
72 meses significam 6 anos.
Isto quer dizer que a pessoa que compra o carro tem que passar seis anos na seguinte condição:

1) Ter certeza absoluta de que terá empregogarantido durante estes seis anos. Certeza de que o País não enfrentará nenhum problema de recessão, nos seis anos, que afete as empresas e conseqüentemente os seus funcionários.
2) Ter certeza de que ela, esposa, marido, filhos, pai e mãe não vão ter nenhum problema de saúde, no período dos seis anos, daqueles que obrigam a família a ter altas despesas extras, que sempre surgem inesperadamente. Certeza de que não terão acidentes, infartos, cânceres, fraturas... enfim, nenhum problema na saúde de ninguém, que proporcionem gastos de surpresa com hospitais e medicamentos caros.
3) Certeza de que a sua geladeira não vai queimar o motor, televisão não vai queimar, máquina de lavar... equipamento básico nenhum de casa vai ter problema.
4) Certeza absoluta de que a casa e nenhum dos seus membros serão assaltados por ladrão nenhum.
5) Enfim, tem quer ter um anjo protetor, muito eficiente, para lhe garantir não enfrentar problema financeiro nenhum durante todos esses anos.

É possível conseguir isto?
Claro que é possível, muitos conseguem, não há dúvida nenhuma.
Mas aí vem a pergunta: Quanto por cento do universo que entra nestes financiamentos consegue chegar até a última prestação, sem passar por nenhum destes problemas citados?
Posso garantir que muitos não conseguem, mas muitos mesmo.
Ainda mais agora, com esta crise terrível que o mundo está enfrentando.
O deixar de pagar uma prestação, ou o pagar com atraso, na grande maioria das vezes, não é questão de que a pessoa seja caloteira ou desonesta, é questão de força maior mesmo. Imagine uma pessoa que, de repente, é surpreendida com um gravíssimo problema de saúde de ente querido na família, daquele que acaba com todas as economias do lar, pelas necessidades de compra de remédios, quimioterapias e outras, será que vai deixar que a pessoa morra, pra pagar prestação de carro, tv por assinatura e outros gastos?
Não vai mesmo. E será caloteira, por causa dessa dura realidade?
É isto que a maldosa sociedade não consegue entender.
Só que os bancos e os seus advogados não querem saber disto. Dane-se o cliente.
Remetemo-nos ao passado, quando o país tinha um pouco mais de vergonha na cara, em algum momento que o cidadão passasse por alguma dificuldade temporária, que o levasse a atrasar algumas prestações, o que acontecia?
Ele iria ao banco e renegociaria as prestações atrasadas, propondo ao gerente: “Estou com três prestações atrasadas. No mês que vem, eu pagarei uma atual e meia prestação atrasada. Ao final de seis meses, estarei novamente em dia com o banco.”
Era deste jeito, existia mais dignidade na prática bancária, os gerentes aceitavam e tudo se resolvia facilmente. Existiam juros, sim, mas algo tolerável e dentro do suportável, sem maiores problemas.
Hoje você nem consegue mais falar com os gerentes dos bancos, porque todos eles são simples fantoches, apenas atrás de novas aberturas de contas e como camelôs vendendo seguros e aplicações. Os bancos não têm mais, pelos seus gerentes, o respeito que existia antigamente, já que eles não têm mais autonomia para nada.
Por incrível que pareça, até o Banco do Brasil, que no passado era sinônimo de dignidade e os seus funcionário eram vistos como status, por toda a sociedade brasileira, incorporou-se nesse universo vergonhoso, como também a Caixa Econômica Federal.
Alamar Regis

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