quinta-feira, 5 de março de 2009

FOI DEUS QUEM ME FEZ ASSIM (Monitor Campista, 21/02/2009)



Partindo do princípio de que nós somos seres criados pela bondade de Deus, é muito comum escutarmos a frase: “Eu sou assim mesmo e foi Deus que me fez assim”. Com que intuito faz alguém essa afirmação? Porventura, essa frase denota a plena confiança na justiça e na providência divinas? De modo algum! Essa assertiva funciona como uma defesa. De modo geral, o homem comum justifica a si mesmo esquivando-se do que a sua própria consciência lhe grita. Criado ou resultado de um epifenômeno biológico, o homem não nasceu com a perversão de caráter. Somos seres dotados de livre arbítrio. Deus é um Pai que outorga ao filho liberdade para agir e responsabilidade para suportar as conseqüências. Deus não é um ditador. Deus não quer seus filhos coagidos a fazer o que é certo. Deus quer filhos que livremente aceitem o seu plano para o nosso mundo. Ao delegarmos a Deus a paternidade de nossos defeitos, estamos cometendo um duplo erro: orgulho e blasfêmia. O orgulho nos conduz à auto-indulgência, que é um recurso primitivo que o orgulhoso utiliza para não se sentir culpado de nada. É um desculpismo confortável, pois não exige de nós nenhuma mudança. Ofender a Deus é culpá-lo por nossa insensatez. O ato de criar foi uma expressão de amor divino incompreensível para a nossa racionalidade. Não é possível ao nosso cérebro, formatado para a relatividade de nossa existência, conceber o que está no sentido do absoluto. O Amor de Deus é algo inefável e não cabe em conceitos humanos, sempre finitos e particulares. Nós somos responsáveis por nossos equívocos na vida. Quando dizemos: “eu sou assim mesmo”, estamos assumindo que somos seres completos. Mas não é verdade. Deus nos criou e quer que nós completemos a nossa criação. Disse Santo Agostinho: “O Deus que te criou sem ti, não te quer salvar sem ti.” Somos convidados a participar ativamente de nossa criação. Giovanni Pico della Mirandola, filósofo neoplatônico italiano do século XV escreveu; “Deus criou o homem pela metade, para que ele pudesse completar-se”. Temos o dever de aprimorar as nossas qualidades e não aperfeiçoar os nossos defeitos. É preciso uma psicoterapia que nos acorde de nosso estado sonambúlico e nos aponte os desvios de nosso caráter. Egoísmo, vaidade, ciúme, ambição não são dotes divinos para os nossos temperamentos. São mimos que fazemos conosco. Somos como crianças rebeldes que consideram ter sempre razão. Deus não “ nos fez assim”, quer que nos tornemos sempre melhores.
Flávio Mussa Tavares
fmussa@mcampista.com.br

Nenhum comentário: